Quando nos aproximamos do advento, a liturgia coloca diante de nós um conjunto de leituras da Bíblia que sublinham a beleza de Deus. São leituras difíceis de entender, e parece que foram também difíceis de escrever: elas mostram como o autor sagrado se vê impotente quando se propõe comunicar a sua experiência de Deus.

A linguagem humana é óptima para falar das coisas da terra, da história, da matéria: podemos fazê-lo com exactidão: é o que sucede com a linguagem das ciências naturais. Já para falar das emoções e sentimentos que nós, seres humanos, experimentamos — para falar do que nos vai no coração — temos mais dificuldade. Então, lançamos mão da poesia, com o seu modo único de dizer. Mas todos sabemos que existem situações em que nem sequer a poesia é de grande ajuda: ficamos “sem palavras”.

O encontro com Deus, tal como nos é descrito pelos místicos, é um desses casos em que as palavras são demasiado pequenas. Diante de Deus que sai ao nosso encontro, que se nos dirige, ficamos sem palavras, mas não esmagados. Pelo contrário: uma harmonia única toma conta da nossa vida e das nossas capacidades. E parece que “rebentamos” se não tentarmos comunicar, partilhar com os demais esse encontro com Deus.

Afinal, trata-se de falar não só do infinito que Deus é, mas daquela realidade que faz com que esse infinito nos atraia: a beleza atrai; e a beleza de Deus atrai infinitamente.

Não é verdade que a beleza se encontre nos olhos de quem vê. A beleza encontra-se na realidade que nos interpela assim, atraindo e envolvendo. E quando tal acontece, só podemos afirmar como Isaías (e como cantamos na Missa): “Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo”. E deixar que Deus tome conta de toda a nossa vida.